a mãe da sónia estendeu a roupa na madrugada de dia 2.
naquela expressão de haver qualquer coisa interminável no céu,
toda a lisura do pano lhe entrara para dentro.
ela olhava e havia a força dos pés em biquinho e de um mundo térreo
que adivinhara sempre igual e a dissolver-se no ar.
com aquela expressão de haver qualquer coisa interminável no céu,
a mãe da sónia procurava as molas nas algibeiras, o riso
das mulheres e dos homens que conhecera. sabia pouco
sobre pássaros, mas quando os via acercarem-se do parapeito
a respiração elevava-se muito e com ela os braços e a voz.
a voz parecia um alvoroço a prolongar o fim de tudo.
6 comentários:
és tão, tão poeta!
como gosto de te ler e sentir este diálogo de silêncios a desenrolar-se deslumbrado e tão pouco explicado, como os pássaros sob os olhos da mãe da Sónia, que explicam tudo, que explicam a vida no interior das molas...
Implacável.
um beijinho, C-ASA.
"...a vida no interior das molas..."
;)
concordo;)
.
um ponto. o fim de tudo.
:)
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