ouve o que diz a solidão do olhar nenhuma sombra a ameaça.
Fotografia retirada de Berenika.
quarta-feira
toco o medo e canto a carne que se agrava. a seda não serve. as águas não despem. o masculino não dissolve.
é uma espécie de fogo. queima sempre o ouro.
enganam-se as palavras. as letras. as vogais a humidade do tempo a noite no corrimão da escada a cidade. as paredes que dilatam.
Fotografia de Berenika.
terça-feira
dá-me a fuga dos cães que ladram esta noite. o vinho quente, o sal que queima a erva a força que ergue as grades. não digas o escudo do mundo. morrerei no teu silêncio e no silêncio do amor.
é noite na escuridão do céu. ouço o apelo da noite como se uma invocação ao meu corpo gerasse o pânico ao pensar as minhas mãos. em ti, é já noite, na escuridão do teu corpo? na alegria breve dos meus olhos recebo os braços teus em nome da terra. na tua face - as estrelas. escrevo. abro as janelas para a noite. escrevo mais ainda. é rápida a sombra. essa sombra que condeno ao absurdo que é ser morte e esquecimento.
Dedicado a Vergílio Ferreira, para sempre
são tantas as coisas que me dizem tudo que me roubam tudo que me deixam una.