terça-feira

naquela noite foram os pássaros
a lembrar o silêncio mais alto. no
teu rosto não soou nenhum alarme
em direcção ao sol. a chuva demorou
catorze dias a morrer no vidro
da garrafa, a encontrar a outra
metade da luz.
























chegamos a casa e trocamos pétalas por ossos.
as mãos ficam transparentes. ainda
trazemos a água dos peixes
na ponta dos dedos, destroços
de uma árvore na boca. é possível ver alguns
cadáveres do outro lado. o mesmo movimento
de sempre, digo: abre a porta, devagar.
sabemos pouco do animal morto
da sua cabeça e pescoço húmido a desaparecer
na terra. do intervalo da nuvem a queimar
a matéria dos objectos.

Fotografia de Velislava.