quarta-feira

poderia lhe ter dito que as coisas rápidas acontecem
todos os dias, falar-lhe um pouco da teoria dos conjuntos
vazios, do trânsito a entrar pela noite e da transformação
de um corpo com a humidade do rio e o calor de alguns
insectos, no entanto não sei ainda assim viver tão pouco
em verdade que facilmente as palavras começariam,
se as tivesse dito, a percorrer aeroportos e as muitas casas
que estão acima do vento e dos metais que confundimos.
depois teríamos medo das colinas e das mãos que apertam
os dedos, da ilusão dos lugares tristes e tudo seria feito de menos
respiração e haveria um largo cinzento na assimetria
da noite ou um pedaço de amor a incendiar a tua cidade.

segunda-feira

algures onde as pessoas se encontram por acaso
e pensam que talvez esteja ali a possibilidade de um amor
novo, não existe senão a miséria e a hipótese de nos tornarmos
criminosos. nesses lugares parece tudo tão fácil de esconder
e até há a boa vontade muitíssimo mais
dócil e a confiança do corpo noutro corpo e chegam-nos
mais duas bebidas sem gelo para sabermos que a casa
é ali perto, que já esteve mais distante a sombra da noite e
que o químico e a sua clareza hão-de esgotar-se pela manhã
bem cedo, quando o despertador tocar e ouvirmos alguém
descer as escadas, quando nos levantarmos a confirmar
o ruído do rádio e as chaves na porta.