terça-feira

há pouco falávamos da solidão e daqueles que desaparecem com o tempo.
pareceu-nos que o mundo deixou de ser circular depois de falsear o trompete
e tu o dizeres sei muito pouco de ti e gostava de te beijar.
eu pensava nas manhãs genuinamente redondas e
no trinta que fez ontem quatro décadas e mais dois anos e do momento
em que o vi a lançar pedacinhos de pão à porta, este sábado de manhã,
depois de pousar o casaco no ombro e de contar à helena a desgraça de não
ter conhecido nenhuma mulher que o alumiasse no escuro da casa.
há maneiras diferentes de encolher os ombros e gostavas
do meu trompete e do som grave, um pouco fechado e rouco que dele vinha
e dizias-mo. o novo mundo estava ali e decidimos beber café e dizer
que as árvores estavam em flor e que talvez o mundo não acabasse.
os prédios são altos e há toalhas estendidas e mulheres que ainda passam
as tardes à janela. são feias e tristes as casas e eu discordei e
dizer-te que a minha alegria é pouca fez com que sorrisses e falasses
um pouco do mercado mesmo atrás de nós, desse lugar onde enlameámos
as botas pela primeira vez são bonitas e rasas, quase que tocamos o chão.