domingo
enquanto espero o 159
penso o amor e uma cadeira
a textura fina do pó e um bago de arroz.
penso nas raparigas que vejo chegar
nas cidades todas que trazem dentro delas.
não sei sequer se existo ainda, mas há som
atrás do vidro e há pessoas que se aproximam.
penso o amor e uma cadeira
os aviões que aterram no aeroporto de lisboa.
não fumo há mais de quatro anos, lembrei-me agora e
daquela t-shirt que me emprestavas para dormir, não sei
porquê agora isto e o sabor quente da meia de leite a ferver
o coração a bater pela casa
a ventania e o coração a bater pela casa.
nada disto interessa
não tenho trinta anos e não estudo antropologia.
os meus pais não são de lisboa. a minha mãe não é médica
o meu pai não é arquiteto. não tenho irmãos não gosto
de palavras nem que me vejam nua
a sair do duche. gosto de sexo e da tua boca.
gosto de sexo e de te ver. gosto que me ajeites a blusa
de quando me apertas nas ancas e me inclinas
a cabeça para trás com força.terça feira é o dia
em que recordo um bocadinho o destino.
lembra-me a terça feira cantada pelo sérgio godinho,
o cheiro que se entranha na roupa
ao sair da feira da ladra.
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