quarta-feira

















tocas o sangue que escorre, dentro
do meu corpo. a pele sem têmpora, a pele
muito quente, e ainda os lugares onde
nos sabemos. existe uma rua estreita
quando as tuas mãos apagam a luz, quando
as afasto no escuro, e as defendo.
e há a dor que permite, a dor do ferro. é
quente, o muro dos teus lábios
quando se demora e o transforma.
por dentro há um outro líquido quando me olhas
as tuas mãos parecem um segredo quando me tocam.


Fotografia de Berenika.

quinta-feira




















há uma verdade-triste que coloco em todas as coisas.
quando digo todas as coisas, digo também a parte
mais iluminada do teu rosto. as vezes
em que apertas com força os lábios
uma e outra vez. e ainda outra
quando alguém diz o vermelho
fresco, um ponto e um limão
a simetria, o vento que fica
em todos os lugares, o túnel comprido
onde o medo é maior se lá entrarmos
se soltarmos as mãos; algo
que nos escapa quando rezamos

que acontece quando caímos.

Fotografia de Berenika.

quarta-feira





















os pássaros parecem querer morrer à tua porta.
digo-lhes que a terra é redonda na parede do quarto, que trago
amoras nos bolsos sempre que fecho os olhos, que atrás das casas
as árvores dormem e fingem o sol quando em segredo as penso
leves e as abraço. esqueço os canteiros e as luzes da cidade,
falo-lhes da construção da tua boca quando tens sede
do amor alumínio que arde nos pulmões. repito a palavra
redonda. às vezes, à tua porta, aguardo as manhãs
cercada no escuro, o que resta do fruto
enquanto não vens.

Fotografia de berenika.