domingo

houve fragmentos de qualquer coisa (não sei o que era) que não se desfez
totalmente nas minhas mãos. há um pó invisível presente em tudo
o que observo (e também nos rios). nunca quisemos falar sobre isto
porque é triste falar desse bocadinho em nós que conhecemos melhor.
a palavra tempo nada diz sobre os lugares ainda por preencher no autocarro.
faltam poucos minutos para as onze e meia da noite e as horas apenas
e um pouco mais do que escutamos ao fim dos dias. o fornecedor
de bolos do café dali da frente leva escondido nas mãos e no corpo
todo (quem sabe) um bocadinho desse pó invísivel e entrou no táxi e
agora é dezembro e disse que quando era míudo fora sempre dezembro.
ainda agora vejo as luzinhas azuis a piscar entre os dedos respondeu o outro
e disse 4 euros, meu amigo e a vida é assim (pausa longa).
qualquer coisa (quem sabe).

fotografia de Alice Lemarim.