domingo

há-de chegar o tempo antigo do fogo.
seremos todos o mesmo líquido.
a unidade demasiado pequena para o tamanho do ar.
há-de chegar a distância ainda.
e o mais próximo será calarmo-nos.

sábado

























há uma mulher de luto em cada escada
de um prédio. elas sabem da existência
dos braços. dentro dos pulmões conhecem
a contrariedade das coisas que se fragmentam.
se olhares o chão, verás a luz que falta? dizem
algumas que as sombras tremem no casulo dos alvéolos.
que são as vizinhas a queimar na pele o que não se vê
quando regressam a casa dos filhos.
o silêncio na bissectriz de um arco? dizem algumas
que se pudessem ficar ali a distinguir o pó
da corda mudariam o instante
de um astro. elas sabem da existência
dos braços, dentro parece-lhes que tudo morre
com urgência.


Fotografia de Velislava.