segunda-feira

os pescadores procuram a rede por onde lhes escapa o peixe.

as mulheres de saias compridas salgam o peixe e uma mãe estendida na areia acaba de perder um filho. as outras crianças pulam de braços erguidos querendo roubar o sol ao dia. brincam na praia onde os rostos salgados se transformam. trazem a saudade nos olhos as mulheres, os sexos sempre húmidos e o maldito mar por onde lhes escapa a vida. ao fim da tarde a mãe adormece e a luz acaricia-lhe o ventre.os pescadores na noite breve sentam-se nos joelhos e rezam a Deus que lhes guarde as mulheres e os filhos. as mulheres rezam baixinho de mãos dadas. deslizam os olhos sobre o rosto imaculado de nossa senhora e pedem piedade e que lhes guarde os maridos e os filhos.os pescadores procuram os corpos de suas mulheres. amam-se como se fosse a última vez. uma mãe chora o filho que perdera. uma mãe vende o peixe. pagam-lhe o peixe e o sacrifício do mar. rezam baixinho os lábios no tempo, as gaivotas.
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