segunda-feira




















São poucas as vezes
em que as luzes se vêem acesas.

Tudo parece estar morto.

Nas mãos abertas
dorme a divindade de uma flor. frágil
contorna o gesto de uma boca indizível
e as palavras demoradas
respiram o espanto aos poetas.

Os campos devolvem aos olhos
a frescura das paisagens
para que a frescura dos olhos
devolva as paisagens
aos campos.

Os campos serão sempre frescos
enquanto existirem olhos.
Ao olhar a paisagem
fixo-a
para que nunca a possa esquecer.

Tudo parece estar morto.

As vozes que cantam
quando por dentro as procuro e não as encontro
tentam acender as luzes.

Distantes. as palavras
em segredo
pousadas na pequenez das coisas simples
escutam o espanto dos poetas.

O gesto da flor
na divindade da boca
devolve aos olhos a paisagem dos campos.
encanto de dois lábios
no perfil da casa.


Fotografia de Ewa Brzoznska.

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