sexta-feira















amor,
quero dizer-te o silêncio das palavras
o sentido longínquo da árvore

renascida da memória do tempo,
o rasgar lento das águas mornas e tranquilas,
a humidade dos gestos firmes
suados de espera e de sonho,
o festim das mãos sempre secretas atentas
quase trágicas cuidando o respirar das noites:
irmãs do medo e das últimas e primeiras colheitas
mães de muitas palavras.

queria escrever-te um poema de terra
o recolher do gado na quietude do olhar,
o entardecer, submisso ao espanto das searas, do trigo
posto na angústia dos meus lábios.

quero contar-te a noite;
a vaidade das primeiras chuvas de Inverno,
o aroma líquido
vindo do seio rompante de mulher
grávida de solidão e de montanha.

as palavras ocupam o espaço do silêncio.

queria dizer-te um poema de vento
onde coubessem as verdadeiras raízes da memória
as grandes verdades do amor
a subtileza de minhas mãos ao tocar as tuas,
ainda os rios
os rios amor,
e o doce néctar das auroras.

Fotografia retirada da net.

2 comentários:

hazey jane disse...

tão bonito. que olhos tão bonitos, que coisas guardadas para contar, que forma de as mostrar... imagino este poema a sair ao ritmo da leitura, assim doce, não o consigo pôr a caber num pensamento. só nuns dedos ritmados como quem toca piano, nas teclas. a sair assim... obrigada

que bairro tão bonito este onde estou*

hazey jane disse...

pensei em levá-lo para a minha casa, mas aqui está no lugar dele. espero que aqui viva durante todo o tempo.