sábado

há muito tempo que conversamos sobre as coisas
que não têm um lugar fixo nos móveis. a moldura é pequena
e mesmo assim, nela a imagem, a única a lembrar-nos
o apartamento e alguns objectos que aconteceram
naquele dia. às vezes, as plantas eram colocadas no chão
da varanda, perto da sombra causada pela roupa do estendal
ou ao lado da estante de pinho, no quadrado da sala.
temos de dar um lugar certo às coisas, um lugar onde
possam morrer para depois ficarem aqui, presas aos olhos
como uma luz sépia a confundir-nos o corpo todo e
a parte mais funda da terra. não havia mais nada
para dizer e tu inventavas as horas da tarde e o bairro
da tua rua era uma extensão de pessoas a esquecer
promessas e a olhar ao cimo, as duas torres da igreja.
naquela manhã pouco importaram as conversas. ela deixara
o quarto meticulosamente arrumado e a sopa ainda
ao lume. ninguém diria que teria sido possível vê-la
morrer assim, de pulsos cortados.

25 comentários:

I. disse...

Acho fenomenal a carga de promenores disparados nestes breves trechos.Isso é que é um recheio-cheio. Ainda que retratem quase sempre inevitavelmente finais trágicos... Pois bem, são o que esta vida simples é.

Mas no meio de tanta escuridão há-de haver sempre luz (...)

I. disse...

Acho que pertencer ao teu bairro é algo que me apraz :)

Beijinho de cá do meu *

I. disse...

Acho que pertencer ao teu bairro é algo que me apraz :)

Beijinho de cá do meu *

Beto Palaio disse...

Texto muito bom... Música maravilhosa... Dá vontade de não ir embora...


Mas, gostaria de lhe enviar nosso jornal LITTERA TOUR... Me passaria seu e-mail?

sophiarui disse...

pulsos brancos a verter na moldura pequena...

lindo!

beijinho bom

Graça Pires disse...

Os pulsos abertos pela rotina...
Belo poema.
Um beijo.

~pi disse...

bela forma : creio

que

tão

reconhecida

de mim...




~

ana salomé disse...

tão triste e bonito, susana miguel. *

Gabriela Rocha Martins disse...

tão humana mente

TU

princesa Aïda

.
um beijo

alice disse...

Há algum tempo levei comigo coisas que tu escreveste. Queria muito fazer três ou quatro páginas ilustradas, mas só consegui fazer uma. Está aqui:
http://www.flickr.com/photos/ameninalice/2715396620/in/set-72157606340796827/

I. disse...

E para quando novos escritos? Continuo a vir espreitar o teu bairro.

Vinícius Linné disse...

Nossa!
De uma força delicada, ainda que cruel.
Parabéns.

Susana Miguel disse...

é verdade, isis.
há sempre uma luzinha.
é bom ter-te por cá;)

um abraço.

Susana Miguel disse...

ó vizinhaa, venha à janela,
conte-me coisinhas boas para a gente sorrir que isto de vez em quando faz um mau tempo por aqui;)

beijinho, isis.

Susana Miguel disse...

obrigada pelas palavras, betão.

claro que sim. o e-mail está no cantinho direito, mesmo por baixo do ver meu perfil completo;)

abraço.

Susana Miguel disse...

sophia, o beijinho de sempre;)

Susana Miguel disse...

obrigada, graça.
é sempre bom receber-te.

um abracinho.

Susana Miguel disse...

um abracinho em pontinhas,~pi;)
obrigada e vem cá ter mais vezes.
(a rodopiar e se conseguires a fazer ventinho bom, sim?)

Susana Miguel disse...

nem sei o que responder, ana salomé. baixinho, só para nós: é um bocadinho como o outono, não é? sabes, gosto quando cá vens, fico assim mais sorridente;););)

Susana Miguel disse...

princesa gabriela, um abraço grande e repetido vezes sem conta;)

Susana Miguel disse...

alice, linda alice. gostei muito muito, assim do tanto e a sorrir.
obrigada e um beijinho grande;)

Susana Miguel disse...

l.m,

obrigada:) és bem vinda e volta sempre, sempre que quiseres a janelinha está aberta.

um abraço.

Susana Miguel disse...

obrigada pela atenção, isis.
fim de férias e regresso ao trabalho, tudo muito baralhadinho, deu falta de tempo, mas já cá estou outra vez:)

Susana Miguel disse...

obrigada pelas palavras, anjo.
um abraço. és bem vindo, aqui, nesta casinha:)

Susana Miguel disse...

linda alice, se puderes envia-me o teu e-mail, sim? quero comentar-te, mas tens as janelinhas fechadas, assim não podemos conversar...fico à espera:)