
os pés não tocavam o chão e eu gostava de ali ficar.
ao lado da fruteira e do cheiro fresco das maçãs
perto do cesto de costura
por cima do mármore branco onde aprendi o amor
pelas tuas mãos. uma agulha subia
a mesma agulha descia e era só ar que respirava
devagar. respirava os restos do tempo, o inverno a subir as paredes.
devagar. enquanto as portas morriam.
porque me ensinas a não chorar? houve um dia em que fingimos
a arrumação dos copos no vidro do armário.
em que foram nossos os dedos
nossos. e perdoaram de mãos dadas.
em que o meu sangue foi teu por dentro da noite.
os pés não tocavam o chão. existias tu
e eu
dançava com os braços alegres
era um ramo que crescia
sempre que cantavas.
Fotografia de Berenika.